Ilha

Já faz um tempo que percebi que ficar sozinha me acalma. Sem fingimentos e nenhuma pressão. Sem falsos sorrisos ou conversa fiada. Mas no início, eu estava sentada sozinha em um barco que estava amarrado na doca. E agora a corda se soltou.

Quando estava me afastando pensei que ainda podia voltar, afinal não fui tão longe assim. Mas o tempo passou e agora estou no meio do oceano, sem nada além do azul do mar e do céu. É bonito aqui, enquanto há luz. Mas quando as nuvens escondem até a luz do luar, fica frio e escuro e sinto que chegou o fim.

Esse é o perigo de ficar sozinha por muito tempo. Se afastar sem perceber, perceber sem se importar, se importar mas não agir. Quando o barco vai chegando na parte funda do mar, as pessoas olham pra mim com pena. Elas sabem que é aquilo que eu quero, mas pensam que eu podia tentar mais.

“Seja feliz”, elas dizem.

Mas como? Como ser feliz quando vários pedacinhos meus estão espalhados por lugares diferentes, e um deles nem está mais nesse mundo? Não dá para ser feliz sem estar inteira, completa e eu já fiz minha paz com isso há um bom tempo. As pessoas não entendem. Acham que é só um caso de alguém “na bad”, e às vezes é o que eu digo a elas para evitar maiores explicações.

“Eu queria que todos me deixassem em paz”.

E assim meu barco foi embora. Me levou pra longe, passando por ondas gigantescas, até uma pequena ilha, só minha, onde posso ficar só e em paz. Tenho tudo que preciso aqui. Mas sinto falta das piadas do meu irmão, das risadas das minhas amigas. Sinto falta do meu gato, do meu cachorro, do café da minha vó, do cheiro de grama que a cidade em que eu nasci tem. Penso no sorriso da pessoa que eu gosto, e lamento saber que ele está sorrindo pra outras pessoas agora.

Mas aqui é meu lugar. Até o barco me levar pra outra doca…


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